Estudante

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EÇA, LEITOR DE EXEMPLA MEDIEVOS
Maria do Amparo Tavares Maleval Resumo Leitura do conto "O tesouro", de Eça de Queirós, levando-se em conta a intertextualidade presente na apropriação de exemplos medievais. Observação das diferenças estabeleci das em relação a tais textos e aos cânones do "Realismo" do século XIX. Resumé Une le'cture du conte "O tesouro", de Eça de Queirós, en tenant compte de Ia intertextualité présente dans I' appropriation d' exemples médiévaux. Observatión des différences établies par rapport à ces textes et aux canones du "Réalisme" du XIXe. siecle. Em muitas das suas narrativas, Eça de Queirós, afastando-se do postulado do Realismo que afirma o lugar privilegiado da contemporaneidade como assunto das obras, reporta-se à Idade Média, revivendo histórias de então. Mas o faz, evidentemente, sem deixar de contaminá-las com a visão crítica de homem do seu tempo. 1 Tal é o caso de "O tesouro” , verdadeira jóia da sua produção contística, publicado em 1894, seis anos antes da sua morte, na Gazeta de Notícias do Rio de Janeiro. Obra, portanto, que data do final da carreira do escritor, quando atingia a depuração do estilo, o refinamento da forma, e quando apresentava acentuadas tendências espiritualistas, dedicando-se a colecionar milagres e à biografia de santos. Distanciava-se, também por isso, da concepção materialista da Realidade que norteara os manifestos da escola literária a que se filiara um dia. Como veremos, o conto a que nos referimos, e sobre o qual refletiremos, faz-se o ponto de encontro de três características relevantes na obra queirosiana: o determinismo, que de resto era uma tendência do momento, a ironia e o mistério, que soube o grande escritor sutilmente instaurar em tantas das suas narrativas. O seu entrecho não apresenta originalidade, antes reporta-se a toda uma tradição, cuja fonte primeva seria muito possivelmente oriental. Não é de todo inviável considerar que Eça a conhecesse, dada a sua paixão pelo Oriente, que...